NENHUM TECIDO É SUSTENTÁVEL
Pode parecer bobagem, mas todas as nossas escolhas geram um determinado impacto no meio ambiente. Hoje quero passar pra vocês uma breve informação sobre os tecidos mais consumidos do mundo e do que eles são feitos.
Para iniciar, vou dizer que não acredito em um produto de vestuário totalmente sustentável e a indústria têxtil polui a atmosfera, o solo e a água. A partir do momento em que criamos um produto, que fabricamos um objeto, é uma matéria a mais no mundo e ela permanecerá no meio ambiente por um determinado tempo dependendo do que foi constituída.
Eu posso falar por mim que venho tentando e conseguido mudar algumas coisas que estavam na minha frente e não enxergava por falta de informação. Pequenas escolhas podem gerar grandes revoluções no mundo, como deixar de consumir desenfreadamente, fazer as escolhas menos drásticas, diminuir o consumo de carne e reaprender a viver com mais simplicidade. Mas já te garanto que mudar requer mais do que esforços, é necessário querer de verdade e estar mergulhado num propósito.
Bom, vamos direto ao assunto: A escolha dos tecidos e os seus porquês!
Classifiquei os tecidos mais usados no mundo em 3 tipos: os péssimos, os menos ruins e os toleráveis. Se estou sendo rude demais é por que nenhuma base é totalmente boa para o meio ambiente. Todas têm vantagens e desvantagens. Vamos conhecê-las:
Sintéticos, os inimigos do meio ambiente.1) Péssimos:
Os que são derivados de petróleo e não deixam de ser plásticos. Hoje em dia, a tecnologia nos permite ter bases com toques leves, macios e que chegam a respirar. Mas você sabe a qual custo? Além dele necessitar de muita energia para a sua produção, ele é petroquímico que geram muita poluição e emissão de compostos orgânicos voláteis (VOC) e efluentes contendo antimônio. Fibras sintéticas provem de matéria-prima não renovável e chegam a ficar ate 400 anos no meio ambiente.
Claro que há benefícios, como a durabilidade, a fácil pigmentação e não necessidade de usar ferro de passar. Se nós não vivêssemos num mundo onde a moda gera descartes muito rapidamente com as alterações de tendências e com o consumo acelerado do fast fashion, talvez fosse uma vantagem apostarem mais peças de poliéster, poliamida ou acrílico.
Outro porém, descoberto recentemente, é o descolamento de nano partículas destes tecidos no momento da lavanderia e talvez pelo atrito. Ainda não há uma máquina que possa filtrar ou tratamento de esgoto que seja tão eficiente. Uma máquina caseira que lava 6 kgs de roupas sintéticas, chega a liberar mais de 700 mil fibras no meio-ambiente. Já foram encontrados nano plásticos em tecidos e órgãos humanos e os cientistas ainda não sabem o tamanho deste problema. Sem mencionar que a água liberada corre para os rios e consequentemente para os mares ameaçando toda a vida marinha. Querem ficar mais chocadas? Estas partículas já foram encontradas até no ártico.
2) Menos Ruim:
As menos ruins são as fibras artificiais e a mais popular é a viscose. São feitas à partir de celulose ou sementes de algodão e tratadas quimicamente com soda cáustica e ácido sulfúrico. O seu manuseio é muito preocupante e requer o cumprimento de protocolos a risca. Também necessitam de uma alta demanda de energia e para cada quilo de viscose fabricados, são necessários 640 litros dágua.
Sua vantagem é ser biodegradável, ou seja, se compostada da maneira correta, dura de 6 meses a 1 ano. Para reciclagem, ela não é ideal, suas fibras são muito curtas e tem baixa durabilidade.
Outras bases conhecidas desta categoria são liocel e viscose de bambu.
3) Toleráveis:
Agora vamos falar das fibras que usamos por aqui. As naturais são basicamente o algodão, o linho, a seda, a lã e o cânhamo. Já que temos que usar roupa, vamos usar as que causam menor impacto, certo?
Estas bases são biodegradáveis e quando descartadas da maneira correta, desaparecem de 6 meses a 1 ano. Lindo, mas não é perfeito. Obviamente elas têm tratamentos químicos e tingimento artificial.
Especificamente sobre o algodão, ele demanda um alto consumo de água para a sua irrigação além dos defensores agrícolas. Ele é responsável por cerca de 24% de todo o consumo de inseticidas e 11% de pesticidas de toda a agricultura.
O linho tem uma produção ainda muito tímida no Brasil, apenas no sul mas não é o suficiente para suprir a necessidade do mercado. Estamos na torcida para que isso aumente rapidamente.
O cânhamo é uma excelente fibra, porém seu acabamento é muito grosseiro o que o deixa muito limitado.
Com o aumento da preocupação em relação ao meio ambiente, surgiram vários certificadores que comprovam a origem sustentável de diversas fibras naturais e artificiais. Servem para regulamentar a produção em todos os aspectos e garantir que o consumidor final tenha a opção de comprar um produto correto em todos os âmbitos (ambiental e social).
Uma observação importante e temos que nos atentar ao consumir, observem sempre a etiqueta de composição e tomem cuidado com tecidos mesclados. Bases que misturam fibras sintéticas às naturais ou artificiais são muito ruins, pois impedem que o poliéster ou poliamida tenham a chance de ser reciclados.
Tecidos de pet (plástico) reciclados não são ecologicamente corretos pois demandam muita água e energia para a sua fabricação e seria melhor que estes materiais fossem aplicados em objetos com maior durabilidade. Cuidado com o marketing em cima da sustentabilidade. Existe certificação para para os tecidos que usam esta reciclagem também, exija a tag!
Couro natural x Sintético: Tão parecidos que são difíceis de indentificar.
Vocês sabiam que existe uma lei que proíbe chamar um tecido que imita ou faz referência ao couro de couro? Pois é, os anteriormente famosos couro eco, couro sintético, couro verde estão definitivamente extinguidos. A lei número 4888/1965 define que somente produtos fabricados de pele de animais podem ser classificados como couro.
O couro natural é um subproduto da indústria da carne, se não utilizado, ele vai acabar em aterros. Muito preocupante, né? São 7.6 bilhões de quilos de couro descartadas por ano. Pra ter uma ideia desta quantidade, se empilhado todo este couro, ela teria uma altura 250 vezes maior que a Torre Eiffel. Muito resistente e altamente durável, o couro tem apenas o problema da sua curtição, que leva cromo e prejudica o meio ambiente e os trabalhadores que o manipulam.
E o mais vilão de todos: O “couro”tecido sintético.
A opção considerada vegana é feita de polímeros sintéticos, ou seja, de plástico intitulado PVC ou poliuretano PU, subprodutos do petróleo e matérias não renováveis. E para mim é de longe o pior de todos, pois sua vida útil é extremamente curta e o maior causador de dispensa de micro plásticos de toda a cadeia. No passado, todas nós já consumimos este material e na estação seguinte nos arrependemos, pois ele esfarela com o tempo. Lixo é o destino, mas lembre-se que ao jogar qualquer coisa no lixo, esta matéria desapareceu apenas da sua vista e este em especifico perpetuará por longos 400 anos no meio ambiente.
Mas qual o melhor tecido a ser usado? Aquele que já existe no meio ambiente! Estes que publicamos sempre e chamamos de upcycling. São tecidos de pouca metragem dispensados pela indústria e recomprados por algumas empresas. Eles já estão presentes e o ideal é utiliza-los. O grande porem é que não encontramos em abundância, então elegemos as grandes estrelas das nossas coleções que serão sempre as bases de fibras naturais, por motivos óbvios. Viva o linho, o algodão, seda e upcycling que se fazem presente nas nossas araras.
Já sabemos que não existe uma forma de ser 100% sustentável, e desde o momento do nosso nascimento já estamos causando impactos. O que podemos e devemos fazer com urgência é dar o nosso melhor enquanto vivos deixando o planeta habitável e seguro para as próximas gerações.
Espero ter ajudado na escolha de vocês.
Com amor,
As Filhas da Mãe
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